quinta-feira, 3 de setembro de 2020

1.2 - O Corpo humano

Como já referimos, o corpo humano (como aliás todos os organismos vivos na natureza) é um organismo, extremamente complexo na sua constituição e forma, que procura funcionar como um sistema harmonioso ao longo de toda a vida.

O objectivo deste estudo é concentrar-nos nas "componentes essenciais" do corpo humano, relacionadas directamente com a toma e processamento dos alimentos e nutrientes externos de que ele necessita para viver:



  • as células: a constituição básica de todos os órgãos do corpo

  • o sistema metabólico: a alimentação e o processo de extracção, transformação e utilização dos nutrientes pelo organismo

  • as carências e excessos da alimentação moderna e a forma de as complementar

  • os nutrientes essenciais, fontes e formas de suplementação

 As   células são as unidades estruturais e funcionais dos  organismos  vivos. Estão ligadas entre si como "chips" de  computador para enviar e receber sinais que instruem como funcionam.

Apesar de muito pequena é, mesmo assim, constituída por diversas estruturas celulares em grande diversidade (função, tamanho, forma, complexidade) no organismo, cada uma com requisitos, e modos de funcionamento específicos e diferentes.

No corpo humano existem, segundo diferentes fontes, entre 10 a 50 biliões (1 bilião = 10^13 = 10.000.000.000.000) de células. Uma enormidade difícil de visualisar. Se pensarmos que o perímetro do equador da Terra mede sensivelmente 40.075 kms de comprimento, se as células humanas tivessem uma dimensão de 1mm de diâmetro e as alinhássemos em fila, dariam a volta ao equador cerca de 1000 vezes. Na realidade são muito mais pequenas do que isso e só visíveis através de microscópios bastante potentes.

Em geral geral, as células animais variam entre 10 a 20 micrómetros, (1 micrómetro=um milésimo de mm) enquanto nos vegetais medem de 20 a 50 micrómetros. Existem no entanto células de grande tamanho, que podem ser vistas a olho nu. É o caso do óvulo humano, uma célula esférica com cerca de micrómetros (0,2mm) de diâmetro.

Como os tijolos de uma casa, a célula organiza-se e agrupa-se em diferentes formas e para diferentes funções, formando tecidos e órgãos complexos e todos os sistemas que governam o organismo.

Cada célula ou grupo de células idênticas existentes no organismo, é uma unidade viva composta de várias partes e que existe no corpo para realizar uma função específica:

  • as células dos rins filtram o sangue;

  • as células do coração contraem-se, para que ele possa impulsionar o sangue pelas artérias;

  • as células do pâncreas produzem a insulina1 e o glucagon2 que regulam os níveis de "açúcar" (glicose) em circulação no sangue;

  • as células do estômago produzem a pepsina. A pepsina é uma enzima3 digestiva que é produzida pelas paredes do estômago, sendo ativada pelo suco gástrico, e tem como função desdobrar as proteínas em peptídeos mais simples (aminoácidos) ;

Enfim, todas as células, realizam uma função específica, que vai contribuir para o bom funcionamento do sistema como um todo orgânico e funcional.

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1 Insulina - hormona segregada pelo pâncreas, importante no metabolismo dos hidratos de carbono, e cuja insuficiência ou falta provoca diabetes. Hormona responsável pela redução da glicemia (taxa de glicose no sangue), ao promover a entrada de glicose nas células. É também essencial no metabolismo de sacarídeos (hidrato de carbono), na síntese de proteínas e no armazenamento de lipídeos (gorduras).

2 Glucagon – hormona segregada pelo pâncreas antagonista da insulina. É uma hormona muito importante no metabolismo dos hidratos de carbono. O seu papel mais conhecido é aumentar a glicemia (nível de glicose no sangue), contrapondo-se aos efeitos da insulina. O glucagon actua na conversão da ATP (trifosfato de adenosina) a AMP-cíclico, composto importante na iniciação da glicogenólise, com imediata produção e libertação de glicose pelo fígado.

3 Enzimas são grupos de substâncias orgânicas de natureza normalmente proteica, com atividade intra ou extracelular que têm funções catalisadoras, catalisando reações químicas que, sem a sua presença, dificilmente aconteceriam. Diferentes enzimas catalisam diferentes passos de vias metabólicas, agindo de forma concertada de modo a não interromper o fluxo nessas vias. 

 

O Sistema Digestivo

O sistema digestivo é, praticamente, o único responsável pela absorção dos nutrientes necessários à vida das células, a partir dos alimentos e suprimentos que ingerimos, nutrientes esses que serão transportados pela corrente sanguínea. A partir de moléculas1 básicas, como as gorduras, as proteínas2, os carboidratos3 ou hidratos de carbono, as células “produzem” várias outras substâncias, no processo do metabolismo4

As pessoas podem comer demais, e mesmo assim, encontrarem-se profundamente desnutridas do essencial. Podem faltar-lhes vitaminas5, minerais6, e outros micronutrientes. Por isso, pode ser necessário recorrer a suplementos alimentares para completar uma alimentação muitas das vezes pobre.

Quando suplementamos, de forma inteligente, fornecemos ao organismo, às células, os nutrientes em falta.

Órgãos do sistema digestivo - Breve descrição e funções

A Boca

O processo digestivo inicia-se na boca, quando os dentes cortam e trituram a comida. A língua desempenha a função de manipular o alimento e misturá-lo com a saliva que vai humidificá-lo. Anexas à boca, existem as glândulas salivares, que são os órgãos produtores de saliva que além de protegerem a boca contra bactérias e humedecerem a mucosa, lubrificam e diluem o alimento para facilitar a sua passagem pela faringe e esófago a caminho do estômago.

A Faringe e Esófago

Após a mastigação, o alimento é engolido e passa pela faringe, e depois, pelo esófago. O principal papel desses dois órgãos é transportar a comida até o estômago através de contrações involuntárias chamadas de movimentos peristálticos. A epiglote, uma pequena estrutura de cartilagem, funciona como uma “válvula” que fecha a entrada da laringe (glote) para impedir a comida de entrar no sistema respiratório.

O Estômago

No estômago, o alimento mistura-se com uma solução aquosa chamada de suco gástrico, que contém ácido clorídrico. A principal enzima do suco gástrico é a pepsina. Utilizada para digerir proteínas, a pepsina começa a quebrar as ligações químicas entre certos aminoácidos7, formando o bolo alimentar a que, após receber essas enzimas, passamos a chamar de quimo. O seu aspecto é uma massa branca e pastosa que permanece no estômago de 2 a 4 horas.

O Intestino delgado

Nos seres humanos, o intestino delgado mede aproximadamente 6,5 metros de comprimento e divide-se em três partes: o duodeno (os 25 cm iniciais), o jejuno (cerca de 2,5 metros) e o íleo(cerca de 2 a 4 metros).

No duodeno são lançadas as secreções produzidas pelo fígado e pelo pâncreas, controladas por mensagens nervosas e hormonas. O pâncreas estimula a secreção do suco pancreático, que neutraliza a acidez do quimo e também desempenha função enzimática. O pâncreas ainda é responsável pela lipase, ou seja, a quebra de gorduras (triglicéridos) em ácidos gordos, glicerol e monoglicéridos.

Já o suco biliar é lançado no intestino para actuar como um “detergente”, transformando as gorduras, em minúsculas gotículas que se misturam com a água e formam uma emulsão.

A parte mais longa do intestino delgado, formada pelo jejuno e pelo íleo, é onde termina a digestão dos alimentos. Nesta fase, o suco intestinal8 é lançado no alimento:

  • a maltase (enzima), hidrolisa a maltose em glicose;

  • a sacarose (açúcar), transforma-se em glicose e frutose;

  • a lactase (enzima), quebra a lactose em glicose e galactose, entre outros.

O Intestino grosso

O intestino grosso é formado pelo ceco, no qual está o apêndice9, pelo colo e pelo reto. A função do intestino grosso é transformar, transportar e evacuar o bolo fecal, daí que tenha uma boa capacidade de absorção e secreção de muco.

No colo, a parte maior, ocorre absorção de água e sais minerais não absorvidos anteriormente. Nele há bactérias que fazem parte da flora intestinal que participam na formação de fezes e na absorção de vitaminas do complexo B e vitamina K.


1 Molécula  - uma entidade eletricamente neutra que possui pelo menos dois átomos, todos ligados entre si por uma ligação covalente. Uma ligação entre dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio (ligação covalente), forma uma molécula de água(H2O); uma ligação entre dois átomos de cada um desses mesmos elementos produz peróxido de hidrogénio(H2O2), vulgarmente chamado de água oxigenada, cujas propriedades são bem diferentes das da água.

2 Proteínas - são macro-moléculas biológicas constituídas por uma ou mais cadeias de aminoácidos. As proteínas estão presentes em todos os seres vivos e participam em praticamente todos os processos celulares, desempenhando um vasto conjunto de funções no organismo, como a replicação de ADN, a resposta a estímulos e o transporte de moléculas. As proteínas têm também funções estruturais ou mecânicas, como é o caso da actina e da miosina nos músculos e das proteínas no citoesqueleto, as quais formam um sistema de andaimes que mantém a forma celular. Outras proteínas são importantes na sinalização celularresposta imunitária e no ciclo celular. As proteínas diferem entre si fundamentalmente na sua sequência de aminoácidos, que é determinada pela sua sequência genética e que geralmente provoca o seu enovelamento numa estrutura tridimensional específica que determina a sua atividade.

3 Carboidratos - glicídios, glícidos, glucídios, hidratos de carbono. Os carboidratos são compostos orgânicos constituídos por carbono, hidrogénio e oxigénio, que geralmente seguem a fórmula empírica [C(H2O)]n, sendo n ≥ 7. Constituem a primeira e principal substância a ser convertida em energia calorífica nas células, sob a forma de ATP. Determinados carboidratos proporcionam rigidez, consistência e elasticidade a algumas células. 

4 Metabolismo, conjunto de reacções intra celulares, umas construtivas (anabolismo) e outras destrutivas (catabolismo), necessárias à formação, desenvolvimento e renovação das estruturas celulares. A soma de todas as reacções químicas que ocorrem nos organismos vivos, incluindo a digestão e transporte de substâncias para e entre diferentes células – dentro das células chama-se metabolismo intermédio.

5 Vitaminas, compostos orgânicos nutrientes essenciais de que o organismo necessita em pequenas quantidades para o normal funcionamento do seu metabolismo.

6 Mineral, consiste numa substância inorgânica, originada de um modo natural, que possui composição química e estrutura atómica bem definidas. Se bem que os minerais sejam elementos ou compostos químicos concretos, que se expressam por meio de fórmulas, é possível que tenham pequenas variações de composição, conservando, apesar disso, a sua estrutura. Os átomos que constituem os minerais encontram-se dispostos segundo um modelo regular tridimensional que é característico para cada mineral.

7Aminoácidos são compostos de carbono (C), hidrogénio (H), oxigénio (O) e nitrogénio (N) (azoto) e alguns contêm enxofre (S), como a metionina e a cisteína. Existem 20 aminoácidos principais, sendo denominados aminoácidos proteinogénicos ou padrão. Outros aminoácidos como a selenocisteína são encontrados em proteínas específicas. Desses 20, nove são ditos essenciais: isoleucina, leucina, valina, fenilalanina, metionina, treonina, triptofano, lisina e histidina. O organismo humano não é capaz de produzi-los, e por isso é necessária a sua ingestão através dos alimentos para evitar a sua deficiência no organismo. 

8 O suco intestinal ou entérico é uma secreção da mucosa do intestino delgado que ajuda na digestão dos alimentos no intestino. Nele existem muitas enzimas. Elas são: a CarboxipeptidaseAminopeptidaseDipeptidaseMaltaseSacaraseLactaseLipase. As principais enzimas são: sacarase, maltase, lactase e peptidases.

9 Apêndice promove o crescimento populacional de bactérias benéficas para o nosso organismo e facilita o repovoamento dessas bactérias no cólon.


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